Brasil pode viver nova onda da Covid-19 ainda em 2021? Infectologistas respondem

O Brasil encerrou setembro com o menor número de mortes pela Covid-19 desde o início de 2021. Foram 16.275 óbitos pela doença no mês, enquanto em abril deste ano, o período mais letal, os registros somaram 82.401 vítimas. Embora os números de setembro demostrem uma queda no índice nacional, pelo menos seis Estados e o Distrito Federal tiveram alta na média móvel de mortes ao longo da semana. Além disso, na quarta-feira, 28, o país chegou a registrar 818 óbitos pelo Sars-CoV-2, número significativamente maior do que a média móvel nacional, que ficou em torno de 540 mortes. Mesmo que localizadas, essas tendências de alta levantam uma dúvida: o Brasil pode viver uma nova onda da Covid-19 ainda em 2021? A infectologista, professora da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia Raquel Stucchi acredita que sim, os brasileiros podem enfrentar um novo pico de infecções pelo coronavírus neste ano. Segundo ela, o avanço da vacinação, com a aplicação massiva da segunda dose, deve controlar a transmissão da doença e, consequentemente, o número de casos graves, hospitalizações e óbitos. No entanto, uma nova onda, impulsionada pela variante Delta, não deve ser descartada.

Se nós podemos ter uma terceira onda? Podemos, mas acredito que muitas coisas estão nos ajudando nesse momento. A vacinação avançou e os gestores continuam exigindo o uso de máscaras, então apesar das aglomerações, das manifestações, conseguimos não ter um aumento no número de casos e bloquear a transmissão. Agora, se as pessoas não comparecerem para a segunda dose das vacinas, podemos ter a terceira onda pela Delta ou por outra variante que surja”, explica. Embora não descarte um novo pico da Covid-19 no Brasil, Raquel Stucchi explica que os localizados aumentos de mortes pela doença nos Estados não são indicativos de uma nova onda. “Aumento exclusivamente da mortalidade, vamos dizer assim, talvez sejam dados represados de municípios ou pacientes que estavam internados há muito tempo, pacientes mais graves [que evoluíram para óbito]. A análise

exclusiva da mortalidade não dá para configurar que seja um comecinho de terceira onda, só seria se estivesse acompanhada dos outros índices também”, pontua.

A infectologista Melissa Valentini, do Grupo Pardini, também considera que as variações nos índices de mortes por Covid-19 em alguns Estados exigem uma análise mais detalhada, considerando a faixa etária das vítimas, possíveis comorbidades e os índices de cobertura vacinal em cada região. Para ela, é possível que o Brasil registre aumentos nas infecções, porém, isso não deve ser traduzido em uma alta generalizada dos índices. “O que foi visto em países da Europa foi um aumento de casos [com a chegada da Delta], mas em uma população altamente vacinada isso não refletiu no aumento da mortalidade. Estamos em um processo de defervescência, principalmente dos casos graves, porque a vacina pode não proteger contra quadros leves e moderados, mas protege contra casos graves”, explica Valentini, que projeta uma tendência de redução do coronavírus, mas não a extinção. “O Sars-CoV-2, o vírus da Covid-19, vai continuar conosco, assim como continuam outros vírus respiratórios, como o da influenza. Por isso, precisamos imunizar a maior parte das pessoas para diminuir a circulação do vírus. Não é fim de pandemia porque o coronavírus vai conviver conosco, mas já começamos a ter um respiro.”

Terço final’ da pandemia

O chefe de infectologia da Unesp, Alexandre Naime Barbosa, também enxerga o aumento de mortes pela Covid-19 como um reflexo pontual, não uma tendência nacional. Assim como Raquel Stucchi, ele explica que o primeiro sinal de uma nova onda da pandemia seria o aumento de casos, posteriormente somado à alta de internações – de três a cinco semanas depois – e dos óbitos. Mesmo com a alta de mortes registradas na última quarta-feira e as variações em alguns Estados, a média móvel de mortes segue em queda e, com esses fatores, um novo pico da Covid-19 é “pouco provável”. “Nós estamos vivendo o terço final da pandemia. É improvável que o vírus acumule mais mutações que levam a variantes de atenção que fujam ao escape vacinal. O coronavírus está esgotando a capacidade dele de fazer mutações e a circulação está caindo. Então, com a projeção de aumento da vacinação, a expectativa é que tenhamos, no máximo, mais um ano e meio dessa situação que necessite de uso de máscara, distanciamento social. Só se surgir um outro fenômeno completamente inesperado. O mais provável é que a gente tenha mais um ano de pandemia, que 2021 seja um ano de desaceleração e até de finalização [da crise sanitária].”

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