Protestos contra obrigatoriedade de vacina ganham adeptos e se alastram pelo mundo

Em novembro de 2021, uma nova variante do coronavírus impôs um revés aos países europeus que transitavam para o “pós-pandemia”. O surgimento da Ômicron fez com que diversos governos recrudescessem as medidas de combate à Covid-19 e a alta transmissibilidade da nova cepa mostrou a necessidade de se avançar ainda mais com as campanhas de vacinação pelo mundo. Em muitos países, a solução encontrada foi a exigência de um “passaporte da vacina” para a entrada em estabelecimentos. O documento é uma forma rápida de se comprovar que uma pessoa completou o esquema vacinal contra a doença. A medida, no entanto, desagradou movimentos da direita pelo mundo. Entoando gritos de “liberdade”, manifestantes se opuseram à obrigatoriedade da vacina. Muitos usaram a oportunidade para desacreditar os imunizantes em si. Em quase todos os países, os atos se tornaram políticos. Na América do Norte, por exemplo, os protestos convergiram para críticas aos governos. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, e Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, foram alguns dos alvos de manifestantes. Na França, a oposição de Macron se aproveitou para atrair a atenção da população às vésperas das eleições presidenciais. Na Suécia, Alemanha e Canadá, neonazistas se infiltraram nos protestos. Veja como os protestos têm acontecido ao redor do mundo.

Caminhoneiros do Canadá se mobilizaram no final de janeiro contra a exigência de passaporte da vacina contra a Covid-19 para atravessar a fronteira com os Estados Unidos. No início do mês, o país começou a exigir que os caminhoneiros não vacinados ficassem em quarentena por 14 dias após chegarem dos EUA. Apesar do governo estimar que menos de 15% dos motoristas não se imunizaram contra a doença, a medida desagradou a categoria, que realizou protestos em Ottawa, capital do Canadá. Além dos caminhoneiros, outros milhares de manifestantes se juntaram ao “Comboio da Liberdade”, e logo os atos se transformaram em pedido para revogação de todas as medidas restritivas para contenção do coronavírus e pela derrubada do governo de Justin Trudeau. Os atos foram marcados por polêmicas como o levantamento de bandeiras e placas com suásticas e danças no túmulo de um soldado canadense. Em pronunciamento sobre os atos, o presidente do Canadá definiu as manifestações como uma “minoria marginal”. A revolta contra Trudeau fez com que ele e sua família tivessem que ser escoltados para um lugar não revelado.

Em 23 de janeiro, milhares de manifestantes de todos os cantos do país se reuniram em Washington. O movimento se concentrou na capital em virtude da exigência de passaporte da vacina para entrada em alguns estabelecimentos como restaurantes, casas de show, teatros e academias no distrito. Saindo do memorial de George Washington, os manifestantes marcharam até chegarem ao memorial Abraham Lincoln, onde discursos foram feitos pelos organizadores, muitos deles médicos. “A obrigatoriedade e as liberdades não são compatíveis. São como óleo e água”, disse um dos oradores aos presentes. Alguns deles carregavam bandeiras em defesa do ex-presidente Donald Trump e contra Joe Biden. O protesto contra a “tirania” da obrigatoriedade das vacinas no país rapidamente se tornou um protesto contra os imunizantes.

Na Suécia, cerca de 9 mil pessoas se reuniram na capital Estocolmo no dia 22 de janeiro para protestar contra o passaporte da vacina. A apresentação do certificado para entrar em locais fechados com mais de 50 pessoas é obrigatória para os cidadãos suecos desde 12 de janeiro. Durante o protesto, os presentes entoavam cantos dizendo: “Não ao passaporte da vacina, sim à liberdade”. O grupo marchou pelas ruas da capital em direção à praça Sergel sob liderança do Movimento da Liberdade. Um outro ato aconteceu em Gotemburgo, a segunda maior cidade da Suécia, reunindo 1.500 pessoas. Alguns manifestantes se juntaram ao movimento neonazista de resistência nórdica, conhecido no país pela sua violência.

Antes mesmo da lei que prevê a implementação de restrições mais rígidas a pessoas não vacinadas contra a Covid-19 ser aprovada na França, manifestantes se mobilizaram para dizer não às medidas. Desde 8 de janeiro, milhares saíram às ruas pedindo a não implantação do passaporte da vacina. O Ministério do Interior estimou que 105,2 mil pessoas participaram dos atos no dia 8. Os movimentos foram impulsionados pela fala do presidente Emmanuel Macron, que, no início de janeiro, declarou: “Para os não vacinados, quero muito irritá-los. E vamos continuar fazendo isso, até o fim. Essa é a estratégia.” Alguns dos manifestantes, inclusive, foram convocados pelo candidato presidencial de extrema-direita Florian Philippot. Apesar das movimentações, o governo não cedeu. Em 24 de janeiro, a exigência do passaporte da vacina para a entrada de maiores de 16 anos em locais como cinemas, restaurantes e trens se tornou obrigatória. Anteriormente, os não vacinados podiam entrar nos estabelecimentos mostrando apenas o resultado negativo de testes de detecção da Covid-19.

Bruxelas, a capital da Bélgica, foi inundada por protestos contra a nova medida do primeiro-ministro Alexander De Croo, que determinou que toda a população belga deveria tomar a dose de reforço após cinco meses do esquema vacinal para manter os seus passaportes de vacina para frequentarem bares, cinemas e outros espaços públicos no país. Em 23 de janeiro, os movimentos contra a medida reuniram 50 mil pessoas em Bruxelas e ganharam os tabloides do mundo pela violência. Os confrontos eclodiram quando a polícia decidiu usar canhões de água e gás lacrimogêneo para repelir os manifestantes, que arremessaram pedra e fogos de artifício perto da sede da Comissão Europeia. Segundo a polícia, mais de 60 pessoas foram presas neste dia.

Em um discurso no parlamento alemão, o chanceler Olaf Scholz defendeu a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 visando aumentar a taxa de imunizados no país. A fala do primeiro-ministro desencadeou uma série de protestos. Semanalmente, dezenas de milhares se mobilizam em marchas em cidades e vilarejos da Alemanha contra a medida. No dia 11 de janeiro, o Ministério do Interior contabilizou a presença de 188 mil pessoas. A maioria não condena apenas o mando de vacinação, mas os próprios imunizantes – o país tem a maior parcela de não-vacinados entre as grandes nações da Europa Ocidental. Grande parte do centro de gravidade dos atos permaneceu concentrada na extrema-direita, dando novo impulso ao partido AfD. Alguns protestos contaram, inclusive, com a presença de grupos neonazistas, o que acendeu um alerta sobre a radicalização do movimento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com