Paralimpíadas: Daniel Dias vê crescimento dos jogos, mas defende mais visibilidade
O Brasil fechou a participação Jogos Olímpicos de Paris com três medalhas de ouro, sete de prata e dez de bronze: são 20 no total, a segunda melhor campanha em número de pódios na história. Agora amantes de esportes podem se preparar para um novo ciclo de competições: entre 28 de agosto e 8 de setembro acontecem os Jogos Paralímpicos, que reúnem atletas com alguma deficiência. Nesta edição, o Brasil não terá o seu maior nome paralímpico nas disputas. Daniel Dias, que já conquistou 27 pódios em quatro edições dos jogos, se aposentou em 2021 e agora estará na torcida. O campeão percebe que as Paralimpíadas ainda têm menos visibilidade que as Olimpíadas, mas acredita que isso tem mudado a cada edição. Na opinião dele, a relevância pode aumentar com mais exibições dos jogos e dos esportes com paratletas e defende o apoio empresarial aos competidores.
A criação dos Jogos Paralímpicos remete ao período pós Segunda Guerra Mundial. O neurologista alemão Ludwig Guttman defendeu, naquela época, o uso do esporte para a recuperação de pessoas com deficiência, em especial veteranos militares do Reino Unido, onde ele atuava. No dia da estreia dos Jogos Olímpicos de Londres em 1948 ele organizou um evento em paralelo, os Jogos de Stoke Mandeville, com pessoas com deficiência. A partir disso, iniciou-se um movimento do que se transformaria futuramente nos esportes paralímpicos. A primeira edição das Paralimpíadas aconteceu em 1960, em Roma.
O Brasil participou pela primeira em 1972, em Heidelberg, na Alemanha Ocidental com apenas 20 atletas. Mas esses números cresceram desde então e, em Paris, serão 271 atletas brasileiros nesta delegação, que é a segunda maior já enviada para os jogos, atrás apenas do evento no Rio de Janeiro, em 2016, quando 298 brasileiros competiram. Para Daniel Dias, as conquistas brasileiras ajudam a aumentar a visibilidade dos jogos no país. “Na minha opinião, as Paralimpíadas tem uma visibilidade menor e são menos conhecidas. Mas hoje com as medalhas que a gente conquista, ficando entre os dez primeiros no quadro de classificação, tudo isso dá mais vitrine ao movimento paralímpico e estamos conquistando nosso espaço”, afirma.
Conhecimento para trazer visibilidade
Daniel pondera que isso não envolve uma competição entre quem merece ou consegue ter mais visibilidade. Pelo contrário, ele acredita que os dois polos esportivos merecem reconhecimento e, para tanto, é necessário que o público conheça e tenha mais acesso aos esportes. “A gente nunca quis concorrer, mesmo porque nós todos somos atletas. No nosso caso, somos atletas paralímpicos que representam o nosso país. Eu vejo que é necessário falar sobre: mostrar, ver as competições ao vivo para que possam assistir. O conhecimento vem por ouvir falar, por ver, e é dessa maneira que a gente vai conquistando o nosso espaço”, diz o atleta.
A primeira paralimpíada da qual Daniel participou foi em 2008, na edição de Pequim. Ele identifica, desde então, um crescimento do esporte para pessoas com deficiência. “É muito importante pois é um crescimento orgânico. As nossas conquistas vieram mostrar o valor do esporte adaptado. Hoje já temos uma credibilidade grande e as pessoas já conhecem mais sobre o esporte paralímpico, as modalidades, suas diferenças e os competidores”, analisa.
Nas quatro últimas edições dos Jogos Paralímpicos, o Brasil sempre esteve entre os dez países mais bem colocados no quadro geral, o que faz o campeão das piscinas acreditar que as modalidades paralímpicas no país estão no rumo certo. Mesmo assim, outra questão ainda precisa ser superada: o preconceito contra pessoas com deficiência. O nadador sonha com o dia em que esse assunto não precise mais ser discutido, mas reconhece a necessidade de falar do assunto para combater a discriminação. “O conhecimento vai quebrar uma grande barreira para que as pessoas, depois de conhecer, possam torcer e vibrar. Da mesma forma, a gente quebra o preconceito com conhecimento e isso acontece com visibilidade, colocando o atleta paralímpico onde ele merece”, comenta.
Apoio e investimento nos atletas
Daniel Dias é um dos atletas que usam próteses, ainda que nas piscinas ele não pudesse competir com os equipamentos. Mesmo assim, são tecnologias que os paratletas necessitam para mais mobilidade e autonomia, dentro ou fora do esporte. O campeão considera, com isso, o apoio empresarial para os competidores como fundamental. Daniel atualmente é embaixador da Ottobock, empresa alemã que atua no Brasil e que produz e fornece próteses a nove atletas paralímpicos brasileiros.
Vinícius Rodrigues, ex-BBB e velocista do atletismo, Sabrina Custódia, do ciclismo, Mariana Gesteira e Vitor dos Santos, da natação, e Raysson Ferreira, do vôlei sentado, são exemplos de competidores que estarão em Paris com apoio da empresa. Ao todo, a companhia alemã investe cerca de R$ 12 milhões nesses e outros competidores. Além disso, é uma das patrocinadoras dos jogos, com investimento de R$ 26,6 milhões.
“Isso só vai fazer com que o esporte paralímpico cresça. Quando a gente mostra que o esporte paralímpico é de alto rendimento, que existem grandes atletas assim como nas olimpíadas, a gente traz grandes empresas e, com isso vem os investimentos e acontece o crescimento dos Jogos Paralímpicos no mundo”, afirma Daniel.
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlim, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. Dentro de um vasto portfólio de produtos, a instituição investe em próteses (equipamentos utilizados por pessoas que passaram por uma amputação); órteses (quando pacientes possuem mobilidade reduzida devido a traumas e doenças ou quando estão em processo de reabilitação); e mobility (cadeiras de rodas para locomoção, com tecnologia adequada a cada necessidade). A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são oito clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.