O bom senso de Juliana Paes me representa
Hoje me sinto na obrigação de elogiar o recente discurso da atriz Juliana Paes, que bombou na mídia, exacerbando os ânimos de muitos artistas, pró e contra a atriz. Juliana, ao se pronunciar em seu perfil no Instagram, rebateu as críticas que recebeu após defender a médica Nise Yamaguchi, que depôs na CPI da Covid-19. A oncologista, ao se pronunciar, afirmou ter sido pressionada várias vezes pelo relator, Renan Calheiros e por outros senadores, sendo interrompida por parlamentares que a impediram de concluir seu raciocínio. O que, além de grosseiro, trata-se de um desrespeito a uma figura feminina. Lamentável. Ao se manifestar em defesa de Nise, Juliana foi bombardeada nas redes sociais, rebatendo as opiniões politizadas e extremistas, acompanhadas de maniqueísmo e acentuadas por expressões de ódio e polarização descabida. A atriz, em seu depoimento, deixou clara sua posição, chamando de “doentia” a divisão da política brasileira.
Juliana Paes não admite ser colocada em nenhum dos polos, uma vez que considera essa divisão entre extrema direita e extrema esquerda doentia. No Brasil, criou-se um discurso, que muitos defendem, em que você é isto ou aquilo. Ainda que não seja verdade. Para esses, na maioria desinformados sobre a realidade do país, não vale se posicionar de forma equilibrada, o que não quer dizer ser neutro. Onde está o bom senso nesse sentido? Nos dias de hoje, ser múltiplo, saber discernir entre uma coisa e outra, equalizar as características positivas e negativas de direita e de esquerda, parece um sacrilégio em um Brasil de extremos. A palavra de ordem é se posicionar pela escolha de um “lado”, o que destrói qualquer manifestação que não se encaixe em seus princípios.
Diante dessa polarização descabida, a atriz Juliana Paes demonstrou não ser “bolsominion”, de direita, nem muito menos defensora dos ideais comunistas da esquerda. “Estamos vivendo um dos momentos mais nebulosos. O mundo inteiro está angustiado. Qualquer assunto é politizado. Eu não sou bolsominion, como adoram acreditar”, disse a atriz. Em um vídeo explicando seu lugar de não se posicionar politicamente em nenhum dos polos, Juliana foi atacada nas redes por muitos artistas e elogiada por outros, colocando as celebridades em pé de guerra perante suas manifestações. Juliana, logo após ter defendido a médica Nise na mídia, foi agredida por palavras que considerou caluniosas por parte de uma colega de trabalho, a atriz Samantha Schmultz, que postou algumas indiretas no stories do Instagram e deu início a uma polêmica de grandes proporções.
Samantha acusou a atriz de covarde, criminosa e desonesta. Em resposta a essas acusações, Juliana se pronunciou em um vídeo, falando que, embora respeite a colega por seu trabalho como atriz, discorda de seu posicionamento ofensivo, dizendo defender a vacinação, ter sido a favor do isolamento social no início da pandemia, porém, com a compreensão da necessidade de se retomar as atividades de trabalho, em função da necessidade de sustento de milhares de famílias brasileiras. Falou também do desrespeito às individualidades e disse que o fato de não se posicionar entre Lula e Bolsonaro hoje leva a interpretações errôneas, e quem assim o faz é considerado alienado das questões sociais por não “escolher” um dos lados. Juliana afirmou que, no presente momento, não se sente representada por ninguém. Para a atriz, falta um governo que apoie as necessidades das classes minoritárias, independentemente do “lado” político, de forma respeitosa, acolhedora. O que, sem dúvida, me representa, pois extremismos não levam a lugar algum. O Brasil precisa ser visto como um todo, em suas carências e necessidades prementes, e essa deve ser a causa máxima de nossas escolhas políticas, sem exageros partidários ou escolhas movidas por paixão ideológica.
O que vejo, diante da fala de Juliana, é que falta à grande parte dos brasileiros uma maior informação sobre a política do país, os problemas que enfrentamos e os reais interesses da classe política que assume o poder, independentemente de suas escolhas partidárias. Para a atriz, se posicionar politicamente no Brasil é ter de escolher um dos “lados”, e não se pronunciar leva a uma conotação de “estar em cima do muro”. Na realidade, como diz Juliana, estamos do outro lado do muro, pois enxergamos que deste lado, disputado por idealismos opostos, impera o ódio, a rivalidade, a vaidade e o individualismo por parte de nossos “representantes”. É hora de se despir de tanto preconceito com quem quer um país cada vez mais democrático, que lute pelos direitos individuais, que não corte as palavras de quem quer se posicionar contra o governo, que não prenda apoiadores do governo, que haja liberdade de imprensa, sem ofensas, disputas ou intimidações a quem quer que seja.
Lutemos por um país que acolha as desigualdades, que busque a multiplicidade de ideais, que não considere criminoso quem não pense igual. Meu respeito a Juliana Paes por sua coragem em dizer o que pensa. E à Dra. Nise, meu acolhimento perante ao desrespeito sofrido em um recinto machista, característica presente em muitos setores da nossa sociedade. Duas mulheres que dizem o que pensam e por isso devem ser ouvidas. Espero que o Brasil se eduque politicamente para poder receber críticas e elogios de forma democrática, sem colocar lados opostos em clima de guerra, como o que vemos hoje. Respeito é a palavra do dia.
Paulo Mathias