Mulher cadeirante que sofreu violência doméstica mostra superação e rotina ativa
Em dezembro de 2015, Bruna Marsanovic, 28 anos, passou por uma experiência que muitas mulheres no Brasil passam todos os anos. Ela sofreu uma tentativa de feminicídio. O ex-namorado jogou a jovem de um edifício, em uma altura de 12 metros. Após três meses internada, sendo um mês em estado de coma, Bruna se recuperou, mas passou a conviver em uma nova realidade: ela se tornou cadeirante, o que não a impediu de seguir sua rotina e até mesmo se tornar mãe. Atualmente, ela trabalha e cuida do filho de 7 meses. Neste Dia Internacional da Mulher, ela quer mostrar para outras mulheres na mesma situação a possibilidade de superação e enfrentamento à violência.
Conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no primeiro semestre de 2022 o país registrou 699 casos de feminicídio, que é o crime de homicídio contra mulheres com o agravante da violência de gênero, doméstica ou familiar, ou mesmo quando acontece por menosprezo ou discriminação à condição da mulher na sociedade. O número mostra que, em média, quatro mulheres foram mortas por dia no país neste período.
Antes mesmo da vítima chegar a essa condição, a violência também pode gerar consequência, como foi o caso de Bruna, que ficou paraplégica. Segundo dados do governo federal, entre janeiro e julho de 2022, foram registradas 31 mil denúncias de violência doméstica contra mulheres. “No tempo em que fiquei internada e em coma, estava completamente desenganada. Mas graças a Deus eu pude me recuperar para compartilhar a minha experiência com mulheres que passam por isso e poder mostrar que a vida continua independente da deficiência”, diz.
Cadeira motorizada: uma extensão do corpo
Bruna atualmente trabalha em uma empresa da área de saúde e segue uma rotina normal, de trabalhadora e de mãe, graças à sua reabilitação e à tecnologia desenvolvida em uma cadeira de rodas motorizada da Ottobock, empresa alemã com atuação no Brasil que é líder em equipamentos como próteses, órteses e mobility. Ela usa a cadeira Wingus, que possui, entre outras características, um dispositivo antitombamento nas rodas, o que traz mais segurança ao usuário. O equipamento apresenta, ainda, um apoio de braços rebatível para trás, o que permite ao cadeirante mais aproximação aos objetos, sem a interferência do apoio. A cadeira ainda possui tecnologia de amortecimento, o que torna a condução mais confortável em solos irregulares.
Ainda durante a gestação, a cadeira foi importante para trazer a tranquilidade necessária para a rotina de Bruna. “A minha gravidez foi muito tranquila, podendo usar uma cadeira que me dá autonomia e independência. A cadeira, para quem usa, é uma extensão do corpo. Se a gente está sentado em um equipamento que não é adequado ao corpo, a gente percebe o quanto isso prejudica na nossa rotina, postura e saúde”, explica.
E ela faz questão de frisar: sua vida é a mesma de uma pessoa que não tem deficiência, graças ao avanço tecnológico na área. “A tecnologia sempre nos proporciona equipamentos cada vez mais avançados a cada dia, que melhoram a vida do usuário. Eu acordo às 4h da manhã e enfrento a rotina de pegar metro e ônibus. A cadeira que eu uso me dá segurança e estabilidade. Permite que eu leve meu filho para a escola com mais tranquilidade, porque o meu dia é muito corrido”, completa.
Debate constante sobre o tema
Independente e ativa, Bruna usa sua história para mostrar a outras mulheres o quanto é importante denunciar os casos de agressão e conseguir dar um basta no processo de violência de gênero. Ela considera fundamental que a sociedade como um todo, sejam pessoas comuns ou empresas, abordem o combate à violência contra a mulher e ao feminicídio tanto no mês de março quanto durante todo o ano.
“Atualmente temos um poder maior de visibilidade com esse assunto. É necessário que a gente conscientize, tanto homens quanto mulheres, que não precisa chegar ao ponto da violência. Se algo não está agradando a ambos, é possível seguir a vida individualmente, sem prejudicar um ao outro. É importante que as empresas tragam essa pauta não só quando o assunto está em alta, como agora. É sempre bom alertar para que mulheres não percam suas vidas, e para que homens não sejam presos. Não há necessidade de gastarmos nossa vida e deixar famílias despedaçadas”, afirma.