Lula já passou 20 dias fora do Brasil e é o presidente que mais viajou ao exterior desde a redemocratização

“Olha o Lula indo, olha o Lula vindo”. As recentes viagens internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não passam despercebidas pelos internautas – e eleitores, que comentam nas redes sociais sobre os períodos do mandatário fora do Brasil. “Viagens de Lula já somam quase duas voltas ao mundo”, disse um seguidor no Twitter, identificado como Gerson Vieira. De fato, desde o início do governo, o presidente já deu quase duas voltas ao mundo. A soma é de mais de 80 mil quilômetros em viagens internacionais. Dados de um levantamento feito pelo site da Jovem Pan mostram que o número de compromissos internacionais do petista, nos primeiros cinco meses de governo, já representa um recorde entre os governos anteriores, incluindo o próprio Lula, se comparadas as gestões iniciadas em 2003 e 2010. Neste ano, Lula já visitou oito países, sendo eles: Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China, Emirados Árabes Unidos, Portugal, Espanha e Reino Unido. Somadas, as viagens representam 20 dias fora do território brasileiro. E o número pode ser ainda maior, já que Lula viaja para o Japão ainda neste mês, entre os dias 19 e 21 de maio. Nos governos anteriores, durante os primeiros 150 dias de gestão, Jair Bolsonaro (PL) se ausentou por 17 dias; Michel Temer (MDB), por 15 dias; e Dilma Rousseff (PT), por 12 dias no primeiro mandato e 8 dias no segundo.

Desde a redemocratização do Brasil, essa é a primeira vez que um chefe do Executivo Federal pode passar mais de 20 dias fora do país antes de chegar aos primeiros 150 dias de gestão (veja relação abaixo). Considerando os governos anteriores, o ex-presidente José Sarney, empossado em 15 de março de 1985, viajou por três dias. Fernando Collor esteve fora do país por nove dias, enquanto seu sucessor, Itamar Franco, viajou por sete dias. Já Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1995, viajou por 12 dias em cinco meses, e em 1999, início de seu segundo mandato, ficou fora do país em seis dias. Esse número de viagens começa a aumentar a partir de 2003, justamente quando inicia o governo Lula 1. Nos primeiros cinco meses daquele ano, o petista visitou sete países e ficou 13 dias fora. Em 2010, logo no início de seu segundo mandato, ele viajou para nove países e ficou 15 dias fora. No total, durante os oito anos em que esteve à frente da Presidência da República, Lula fez 243 viagens, totalizando 80 países. Isso mostra que, de fato, antes mesmo de iniciar o terceiro mandato, Luiz Inácio já era o presidente que mais viajou na história recente da política brasileira. A nível de comparação, a agenda diplomática de Dilma Rousseff (PT) abrangeu, ao todo, 83 viagens, enquanto a de Michel Temer (MDB), 26, e Jair Bolsonaro, 33.

Presidentes que mais viajaram nos primeiros 150 dias de gestão:

  • Lula (2023): 20 dias
  • Jair Bolsonaro: 17 dias
  • Lula (2007): 15 dias
  • Michel Temer: 15 dias
  • Lula (2003): 13 dias
  • Fernando Henrique Cardoso (1995): 12 dias
  • Dilma Rousseff (2011): 12 dias
  • Fernando Collor: 9 dias
  • Dilma Rousseff (2015): 8 dias
  • Itamar Franco: 7 dias
  • Fernando Henrique Cardoso (1999): 6 dias
  • José Sarney: 3 dias

Embora não seja novidade, as idas e vindas de Lula neste mandato chamam atenção de internautas e políticos. Enquanto alguns questionam os valores empenhados, como o gasto de R$ 1,3 milhão para viagem à coroação do Rei Charles III, no Reino Unido, outros apontam para a falta de zelo com a política local – e as promessas de campanha ainda não cumpridas. Na quinta-feira, 11, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, afirmou que, cinco meses depois, o “governo que não começou só olha para trás ou para fora”. “Sete viagens internacionais e nenhuma agenda prioritária no Congresso. Projetos para criar emprego no Brasil? Não tem. Corte de despesas? Muito menos. Apertem os cintos, o piloto sumiu”, escreveu o ex-ministro do governo Bolsonaro no Twitter. Entre os seguidores do presidente, os compromissos fora do território brasileiro também são motivos de questionamentos e cobranças. “Lula, quando você vai visitar o Brasil?”, perguntou, ironicamente, um perfil. “Encontros e mais encontros. Trabalhar que é bom o senhor não quer?”, questionou outra seguidora, sendo respondida por outros internautas. “O nome desses encontros por sinal é trabalho”, justificou uma apoiadora.

É fato que as viagens de Luiz Inácio ao exterior não são a passeio. O fortalecimento das relações diplomáticas, bem como da melhora na imagem do Brasil no exterior, estão entre as prioridades do governo Lula 3. Ao mesmo tempo, a cada volta ao mundo, o petista tem trazido investimentos e acordos, que já somam mais de R$ 65,2 bilhões negociados. Contudo, mesmo entre os apoiadores, há quem entenda que o presidente deveria focar suas atenções para a política brasileira, especialmente às vésperas de votações importantes para o Planalto, como do novo arcabouço fiscal, da reforma tributária e até mesmo do PL das Fake News. “Está na hora do presidente Lula se dedicar à aprovação dessa PL 2630, e separar um tempo na agenda para correr atrás desses votos. Vejo as viagens, e sei de suas necessidades, mas vejo uma omissão em algo importante, e que demanda articulação dele”, escreveu um internauta, em resposta ao deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP). “Lula, em quatro meses de gestão, você fez cinco viagens internacionais. Aterrize no Brasil, trabalhe, cobre ação do seu ministério, pare com as cinematografias. O Brasil existe isso”, também cobrou publicamente o ex-ministro e ex-senador Arthur Virgílio Neto (PSDB), também no Twitter.

Outro fator que contribui para a defesa de que Luiz Inácio permaneça mais tempo no país é a articulação política. Às vésperas de votações importantes, o Palácio do Planalto ainda patina para consolidar maioria no Congresso Nacional, especialmente na Câmara, onde o governo Lula 3 sofreu duas derrotas consecutivas: adiamento da votação do PL das Fake News e aprovação do projeto de decreto legislativo (PDL) que derruba os decretos que alteraram as regras do Marco Legal do Saneamento Básico. Entre deputados, o entendimento é que a mesma atenção dada à política externa deve ser empenhada junto ao Parlamento. “Lula tem que articular, porque com ministério não está resolvendo. Ministério não conquista deputado. Lula tem que atrair os deputados, não os partidos, porque os parlamentares não estão se vendo representados [pelos ministros escolhidos]”, disse o deputado federal José Nelto (PP-GO), em entrevista ao site da Jovem Pan. Ainda que desagrade opositores e aliados, a expectativa é que Lula continue viajando, pelo menos por mais cinco vezes ainda em 2023. Neste mês de maio, o presidente deve passar dois dias no Japão para encontro do G7. Em julho, o petista visita a Argentina; em agosto, a África do Sul; e em setembro, para a Índia e para os Estados Unidos.

Em janeiro, primeiro mês de governo, os gastos secretos da Presidência foram de R$ 651 mil, enquanto que os da Vice-Presidência ficaram em R$ 110 mil. Em fevereiro, as despesas caíram e ficaram em R$ 600 mil, no caso da Presidência, e em R$ 31 mil, na Vice-Presidência.

Gastos secretos do corporativo do Planalto vão a R$ 2,5 milhões

Nos primeiros três meses do governo Lula, os gastos secretos da Presidência da República no cartão corporativo passaram de R$ 2,5 milhões. Já os gastos da Vice-Presidência, que tem o comando de Geraldo Alckmin, foram bem menores e ficaram na faixa de R$ 173 mil. Os números constam no Portal da Transparência do governo federal.

Em março, no entanto, os gastos da Presidência da República com cartão corporativo dispararam, com a gestão federal utilizando R$ 1,296 milhão, mais do que os dois primeiros meses somados. Já o órgão superior que tem o comando de Geraldo Alckmin se manteve nos R$ 31 mil.

No total, de acordo com o Portal da Transparência, os gastos dos 2.395 portadores do Cartão de Pagamento do Governo Federal, nome oficial do cartão corporativo, foram de aproximadamente R$ 12,2 milhões de reais de janeiro a março. A inserção dos dados referentes ao mês de abril deve acontecer até o final de maio.

“Repasses de Lula não garantem piso da enfermagem”, diz CNM

A Confederação Nacional de Municípios (CNM) emitiu, nesta sexta-feira (12), uma nota criticando os repasses feitos pelo governo Lula para pagar o piso de enfermagem.

Segundo a instituição, a Lei 14.581/2023, sancionada pelo presidente Lula, libera crédito especial de R$ 7,3 bilhões no orçamento do Fundo Nacional de Saúde para bancar o piso da Enfermagem. Todavia, o valor não é suficiente.

– Infelizmente, a medida atual é uma ilusão. O valor sancionado não paga um terço do piso dos profissionais de saúde que atuam nos municípios. Além disso, trata-se de recurso somente para 2023, não permanente para uma despesa continuada – diz a nota.

A CNM lamenta que não haja uma regulamentação sobre esses pagamentos, determinando a forma de distribuição e transferência de recursos para honrar o pagamento dos profissionais.

Estimativas da entidade mostram que o impacto do piso apenas aos municípios será de R$ 10,5 bilhões neste ano. Mas a lei assinada por Lula garante apenas R$ 3,3 bilhões para os entes locais.

Assim, para poder honrar com o pagamento dos enfermeiros, os municípios teriam que demitir mais de 32,5 mil profissionais da enfermagem.

– A CNM vai solicitar novamente que a Corte mantenha a suspensão da efetividade legal do piso até que haja fontes definitivas e sustentáveis de financiamento do piso – completa a nota que pode ser lida na íntegra aqui.

Bolsonaro promete processar Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será duplamente processado por seu antecessor no Palácio do Planalto. É o que promete o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em vídeo divulgado nesta sexta-feira, 12, ele anunciou que vai mover duas ações contra o petista.

No vídeo, Bolsonaro afirma que Lula espalhou ao menos duas mentiras a seu respeito. Uma em relação às mortes no Brasil, em decorrência da pandemia de covid-19. A outra inverdade mencionada pelo ex-presidente da República seria referente a um imóvel supostamente não declarados às autoridades responsáveis.

“Primeiramente, ele diz que dos 700 milhões de mortes, 300 milhões a responsabilidade seria minha”, começa Bolsonaro, ao lembrar dos números — equivocados — citados por Lula nesta semana. O Brasil tem cerca de 207 milhões de habitantes e, de acordo com o Ministério da Saúde, 702 mil mortes ocorreram por causa do coronavírus.

“São números absurdos, mas que atingem a minha honra”, diz o ex-presidente, ressaltando que a fala de Lula sobre o coronavírus provocará processo na área cível.

A ação na esfera criminal prometida por Bolsonaro é referente à acusação feita pelo petista sobre um imóvel nos Estados Unidos e que, suspostamente, estaria avaliado em US$ 8 milhões. De acordo com a afirmação do atual presidente, a mansão pertenceria a Bolsonaro, mas estaria registrada no nome de um assessor.

“São absurdos”, disse Bolsonaro. “Ele não pode continuar falando mentiras à vontade e não ser incomodado por praticamente ninguém”, prosseguiu. “Faremos a nossa parte, e tenho certeza de que a Justiça fará a dela”, completou o ex-presidente da República.

Bolsonaro promete que os dois processos contra Lula serão abertos na próxima semana.

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