Juros: Taxas disparam com Lula voltando a criticar Banco Central
Os juros futuros dispararam, nesta sexta-feira (3), com algumas taxas nos contratos da ponta longa chegando a abrir mais de 40 pontos-base nas máximas da tarde. As críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central e dados econômicos mais fortes nos Estados Unidos, que pressionaram os Treasuries e o câmbio, foram os condutores dos negócios na sessão. Com o desempenho muito ruim nesta sexta (3), as taxas acumularam alta expressiva na semana, marcada pelo balde de água fria nas apostas de queda de juros em 2023 tanto pelo Copom quanto pelo Federal Reserve.
A entrevista do presidente Lula, nesta quinta-feira (2), à RedeTV! caiu como uma bomba no mercado. Não que tenha trazido qualquer novidade. As críticas à autonomia do Banco Central (BC), ao atual nível da taxa de juros e das metas de inflação já haviam sido feitas por ele em entrevista à GloboNews em janeiro. O fato é que, na quinta, ele dobrou a aposta contra o BC, um dia depois do Copom indicar que a Selic pode não cair no curto prazo caso as estimativas de inflação não retornem às metas no horizonte relevante da política monetária.
Lula defendeu um “padrão Brasil” para as metas.
– Uma inflação de 4,5% no Brasil, de 4%, é de bom tamanho se a economia crescer – disse o presidente, para quem não há razão para a taxa de juros estar em 13,75%, uma vez que não existiria inflação de demanda.
Por fim, disse que após o fim do mandato de Roberto Campos Neto fará uma “avaliação do que significou o Banco Central independente sic”.
– Ele parece não ter entendido que a Selic está neste patamar por questões técnicas – afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Quanto à autonomia do BC, embora o mercado veja a mudança desse status como mais difícil, a insistência de Lula amplia os temores às vésperas das trocas na diretoria. No fim de fevereiro, vencem os mandatos de Bruno Serra [Política Monetária] e Paulo Souza [Fiscalização].
– Há um temor de que indique nomes mais suscetíveis a influências políticas, principalmente no caso da diretoria ocupada hoje por Bruno Serra – diz Rostagno.
– Tombini era alinhado à ala política e vimos que, na prática, as ações do BC miravam o teto e não o centro da meta – lembra o estrategista, citando o risco desse cenário se repetir.
No fim da tarde desta sexta, o mercado acelerou os ajustes, com zeragem de posições (stop loss) vendidas antes do fim de semana e da pesquisa Focus na segunda-feira. A piora à tarde também foi influenciada pelo exterior, quando os juros dos Treasuries aceleraram o avanço, com a T-Note de dois anos superando 4,30% e a de dez anos tocando 3,54% nas máximas. Houve deterioração também no câmbio, com as máximas do índice DXY levando o real a ampliar as perdas, e o dólar por aqui fechou na casa de R$ 5,14.
Os números fortes do emprego norte-americano, com criação de 517 mil vagas em janeiro, muito acima do consenso de 190 mil, dissiparam as apostas de redução de juros nos Estados Unidos agora em 2023.