Confiança do consumidor está tímida; inflação deve ser um obstáculo para melhora em 2021

Segundo dados da FGV, índice bateu 80 pontos, o que indica o abandono da melhora da percepção econômica de outubro, quando registrou 85 pontos

Chegamos na última semana do ano. Eu mesma desejei isso boa parte do ano, e em vários momentos achei que chegaríamos ate aqui diferentes do que estamos hoje. Inicialmente, no estágio da negação, achei que em dezembro estaríamos olhando o período da pandemia como um lapso no tempo/espaço, e que já estaríamos “normais”. Depois, achei que estaríamos em estado de pós-guerra, com pessoas nas ruas pedindo ajuda. A vantagem da fantasia em relação à realidade é que sempre eliminamos arestas e as coisas não são nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Então, antes de tudo, deixo aqui palavras mais animadoras: eu realmente acho que temos que dar uma salva de palmas ao maior aprendizado que o Brasil teve em 2020: nossa capacidade de adaptação às situações adversas. Tivemos um ganho enorme em digitalização nas empresas e nas vidas das pessoas, e vamos encerrar o ano em uma recessão não tão avassaladora como inicialmente imaginávamos.

Mas há coisas (muitas delas) que ainda me incomodam, e os indicadores estão aí mostrando isso. Não devemos deixar a esperança que é comum na última semana do ano ofuscar esses problemas. Vejam, por exemplo, os indicadores de confiança. Semana passada, a FGV divulgou o indicador de confiança do consumidor, que encerrou o ano a 80,6 pontos, uma marca bastante tímida. Verdade que no auge do isolamento social este indicador marcou 59 pontos. Mas esses 80 pontos já mostram um abandono da melhora da percepção econômica de outubro (com 85 pontos) e seguem muito atrás dos 94 pontos pré-crise provocada pelo novo coronavírus. Interessante ainda notar que esse indicador é uma combinação da percepção sobre o presente e expectativas dos consumidores. E como o brasileiro é um povo esperançoso, as expectativas dos consumidores, ou seja, o que aguardam nos próximos meses é que levou à melhora do indicador. 

Olhando para frente, dois fatores podem atrapalhar a confiança do consumidor, mesmo suas expectativas: a inflação e o mercado de trabalho. Os dados de inflação já incomodam no final de 2020, e a inércia, característica forte na inflação brasileira, pode ser um problema, ainda mais que devemos ter alguma recuperação econômica com a vinda da vacina e o isolamento social chegando ao fim. Além disso, como já alertei nesta coluna, o mercado de trabalho está longe de ficar bom. A taxa de desemprego está alta e deve continuar nos primeiros meses do ano, prejudicando ainda mais a decisão das pessoas em consumir futuramente. Importante prestar atenção nisso. A duplinha inflação e desemprego ainda pode ser um obstáculo em 2021. O que mais pode vir daí? 

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