Análise: Avanço da ‘prévia do PIB’ consolida a retomada da economia no 3º trimestre
Escorada pelos auxílios do governo federal, alta pelo quarto mês consecutivo surpreende, mas não ameniza cenário pessimista esperado para 2021.
O avanço de 1,06% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em agosto indica a consolidação da retomada econômica no terceiro trimestre do ano, e aponta para a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) após queda histórica registrada nos três meses encerrados em junho. Os dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quinta-feira, 15, mostram o quarto avanço consecutivo da retomada, e também reconhecem os esforços do governo federal ao lançar pacotes para mitigar os impactos da pandemia do novo coronavírus na economia, como o auxílio emergencial e o programa que permite a redução ou suspensão da jornada de trabalho e salário. Porém, a despeito do momento otimista, a reação lenta do setor de serviços e a alta da taxa de desemprego ainda farão o país fechar o ano com forte queda do PIB, e criam um cenário desafiador para a continuidade da retomada em 2021 após a extinção dos auxílios patrocinados pela União.
A alta da prévia do PIB em agosto está abaixo do projetado pela Cláritas Investimentos, mas ainda sinaliza para a reversão das quedas históricas registradas nos primeiros meses de pandemia. Para Marcela Rocha, economista-chefe da instituição, a soma do avanço de 1,06% com a alta de 3,7% revisada pelo BC para o mês de julho já indica o empuxo da economia no trimestre encerrado em setembro. “A recessão [para 2020] já está contratada, mas mais importante que o tamanho do tombo, é entender a velocidade da recuperação. Para o terceiro trimestre, é esperado um crescimento de 8% do PIB. Não anula a projeção de queda para o ano, mas indica que a economia está se recuperando com todos os estímulos fiscais, o corte da taxa de juros, a flexibilização do isolamento e as quedas dos índices de casos e óbitos [do novo coronavírus]”, afirma.
A análise é semelhante a de Lisandra Barbero, economista da XP Investimentos. Nesta quinta, a instituição revisou para 7,8% a expectativa para o PIB dos três meses encerrados em setembro. A mudança para o número mais otimista é baseada na recuperação acima das expectativas dos setores da indústria e comércio, além da manutenção dos postos de trabalho em meio à pandemia. Apesar da terceira alta consecutiva do setor de serviços, com avanço de 2,9% em agosto, segundo dados do IBGE, a disparidade dos índices em comparação ao período pré-pandemia trava a expectativa de melhora mais acentuada para a economia nacional. “A interpretação geral do ritmo de atividade econômica está em linha do visto nos últimos meses. O setor de serviços ainda está frágil, contribuindo como o principal peso ao ritmo de recuperação, enquanto indústria e varejo estão em velocidade acelerada, principalmente com os estímulos do governo federal”, diz a economista.
O tom de otimismo ao curto prazo não se estende para o próximo ano. Com a economia ainda combalida pelos impactos da Covid-19 e o fim dos auxílios do governo federal, a expectativa é de uma retração no ritmo de recuperação a partir de 2021. “Não se pode esquecer da situação financeira das famílias e empresas, do legado da pandemia. Apesar de comemorar avanço do PIB no 3º trimestre, a economia ainda encerrará este ano em contração, desemprego alto e muitas empresas com situação financeira frágil”, afirma Marcela, que projeta queda de 5% no PIB este ano e recuperação de 2,5% em 2021. Para Lisandra, da XP, o cenário pós-pandemia é agravado pelo ritmo de crescimento lento que o país já demonstrava antes do surto do novo coronavírus. A expectativa da instituição é encerrar o ano com queda de 4,6%, ante recuperação de 3,4% em 2021. “Para o ano que vem, entendemos que a economia continuará bastante fragilizada. Antes da pandemia a recuperação já vinha em passos graduais, e apresentava certas dificuldades na indústria e recuperação do mercado de trabalho. No cenário pós-pandemia, essas dificuldades devem ser acentuadas pelos resultados da crise.”