Imprensa internacional pinta retrato monstruoso do Brasil justo agora que a economia mostra recuperação

O Brasil realmente não dá sorte com a imprensa internacional. O mundo gira, o tempo passa e nada de melhorar a ideia de que os jornalistas de outros países fazem da nossa terra, nossas coisas e nossa gente; dos nossos governos, então, é melhor nem falar nada. Antigamente, diziam que o sujeito podia ser morto à flecha ou comido por uma onça em plena Avenida Copacabana. Hoje dizem que o Brasil está praticamente morto, destruído pelas dez pragas do faraó e, para complicar, é governado por uma espécie de sub-Calígula tropical de direita que com certeza vai arruinar a humanidade se não for detido já, neste instante. Talvez fosse melhor, pensando bem, ficar com a imagem externa de que o Brasil tinha no tempo da onça em Copacabana. Pelo menos, naquela época, o que se dizia era a bobagem fundamental — ou seja, o despropósito em estado puro e simples, sem compromisso nenhum com qualquer fato, que podia incomodar os indignados de sempre e ferir o orgulho de um país caipira e inclinado a julgar-se mais europeu do que era, mas não passava muito disso. Hoje, além da coleção de disparates de ontem, é preciso ouvir prodigiosas lições de moral, discursos de correção política e teorias cansativas sobre administração pública. Ou seja: estão escrevendo que tem onça, querem explicar por que tem, e ensinam o que nós todos temos de fazer para sair dessa vida. Pior: a elite nativa acredita em tudo, fica agitadíssima e diz a si própria que desta vez, positivamente, está tudo acabado para o Brasil.

A tragédia do momento é um artigo da revista inglesa “The Economist”, que, como o “New York Times” e mais uma ou outra publicação norte-americana, tem o dom de mexer com os complexos de inferioridade mais primitivos do brasileiro que se julga culto, inteligente e civilizado. (Outros veículos estrangeiros podem reduzir o Brasil a farinha de rosca, mas aí quase ninguém liga; país subdesenvolvido é assim mesmo, só leva a sério o que é dito em inglês.) Não é um levantamento de fatos; é um texto de opinião, apresentado como o editorial mais importante da edição. Dizem ali, mais uma vez, que o Brasil está jogado numa fossa infernal, sem emitir sinais de vida ou de esperança, e o pior de tudo é que Bolsonaro não é o único culpado por isso; além dele, há também a desgraça do “sistema político”. “Deu na ‘Economist’”, portanto — e isso, como acontece quando “dá” no “New York Times”, é uma certidão de que, para o mundinho da política, dos jornalistas e dos empresários que têm viés “social”, qualquer coisa que estiver entre a primeira e a última palavra do texto é a verdade em seu estado mais indiscutível. E se disserem que o Brasil é um subúrbio de Buenos Aires, onde as pessoas usam sombrero mexicano e fazem a siesta da tarde? Continua sendo verdade, dentro da bolha. “Deu na ‘Economist’”, e, se “deu” lá, não há mais o que discutir. Game over. Não concordou com o que “deram”? Perdeu, playboy.

J.R. Guzzo

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